quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Percevejos dividem cela com presos em Apuka... Um dia fugiremos todos!


Ah, se os percevejos soubessem! Se devessem o que eu devo. Se pelo menos ouvissem o que eu escuto, ou se vissem o que eu vejo por essas grades. Com certeza não teriam se alimentado de meus ácaros ainda em minha pele.

Dia desses quase perdi meu chip do celular, ele estava no rasgado do colchão e por pouco não tive coragem de pegar. Os caras vinham pro bate-grade e tive que descobrir essa droga no nosso xis. Depois não parei mais de me coçar.

Queria mesmo é ter o que fazer, além de ser obrigado a compartilhar idéias de fuga e cara de mau esquecendo o que minha mãe disse um dia, sim, ao contrário do que muitos pensam, eu tive muitos conselhos de meus pais.

O mais difícil aqui é ser quem não se é, nem de perto. Conviver com doentes e doenças é um desafio. Tipo vira-latas entende, dá impressão que é imune a tudo. Meu colchão não estava assim tão ruim o do Carlão estava bem pior.

Carlão está preso há oito anos e já nem dorme mais de tanta tosse, sua mãe chora toda semana na visita, ela diz que seu filho não sai vivo daqui, nem sabe o artigo pelo qual o filho dela foi preso. Carlão se acostumou e é do tipo conselheiro dos manos sabe. Dizem por aqui que ele matou dois caras que tinham abusado de uma irmã dele. Elas nunca vieram visitá-lo. Uma está morando com o irmão de uma das vítimas de Carlão. Sina desgraçada.

Trocaram trinta e quatro colchões das celas, quatorze tinham percevejos. Atualmente somos duzentos e trinta presos. A estrutura do prédio comportaria no máximo oitenta. Mas e aí, quem se importa, marginais por natureza nós não votamos. Criativos por sobrevivência, um dia fugiremos todos, Carlão disse que não vai, tem medo de buraco e dó da sua mãe.

Quanto aos colchões, os novos queimam melhor. Chamam mais a atenção. A fumaça sai e os percevejos voltam, afinal de contas, nosso trabalho aqui é bolar fugas em massa, nem que usemos disfarces de insetos!


Por: BaratA – Colando em seu sapato!

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