terça-feira, 4 de novembro de 2008

Esperamos a quarta fuga do Reino de Apuka


Mais uma fuga de detentos do mini-presídio de Apucarana. Vinte e três pessoas ganharam ontem liberdade forçada. Há quem diga, inclusive pessoas da nobre imprensa apukense, que é um direito do preso tentar fugir. Não acho que isso seja verdade. Penso que é um dever de quem cometeu um crime pagar sua pena.

Só em 2008, já foram três fugas do mini-presídio, sendo que, ao todo, 60 presos conseguiram escapar. Claro que muitos já foram recapturados e alguns acabaram morrendo em confronto com a polícia ou mesmo cometendo outros crimes.

Diante de tal situação, retorna a velha reflexão: o Reino de ApuKa precisa de um novo local para abrigar seus presos. Mas, quando se fala do Reino comportar um presídio, uma casa de custódia, ou coisa do gênero, grande parte da população fica alerta, apreensiva.

Mais que isso, volta outra velha questão: o sistema carcerário brasileiro não recupera ninguém, pelo contrário é uma escola de crimes. O que fazer?

Bom, se o sistema já é uma escola, no sentido negativo, porque não transformá-la de fato em um local de ensino, positivamente.

Sugiro que, a partir de hoje, todos aqueles que forem presos, que voltem aos bancos escolares, aprendam português, matemática e inglês, pratiquem esportes, aprendam algum artesanato e vivam, como as crianças, em Tempo Integral. Quem sabe, com uma boa oportunidade de aprendizado, não haja a tão sonhada regeneração.

Algumas empresas de Apuka já fazem sua parte, oferecendo uma oportunidade de trabalho a quem já cometeu seus erros. Nós elogiamos esse trabalho, mas é preciso muito mais.

Utopia a nossa? Sim, sonhamos alto demais. Afinal ninguém, muito menos nenhum governo, está a fim de revolucionar o mundo. Enquanto isso esperamos a quarta fuga, ou que o mini-presídio desabe (metáfora – não há esse perigo), pois aquele solo já está escavado como por tatus.

Segurança Pública será o tema da Campanha da Fraternidade em 2009. Ainda resta uma esperança!

By Dona Aranha.

Um comentário:

Anônimo disse...

Mais uma vez, a liberdade foi encontrada no fundo do buraco, alegro-me quando percebo que as coisas estão indo para o buraco, quem sabe assim podemos nos libertar verdadeiramente. Ademais, quanto a estar debaixo da terra, os mortos podem nos informar melhor como é isto, mortos e livres, ainda que presos dentro da cama de madeira. E como zuniu MoscA, a dois dias estávamos cultuando os mortos/livres, enquanto vivos/encarcerados tramavam a conquista da liberdade. De fato, imaginei o encontro dos vivos e dos mortos no fundo do buraco, uma vez que nosso mini está bem próximo ao cemitério mais lotado do reino de apuka.
Do morto:
― Olá! Quem está batendo!
Dos vivos:
― Ó Deus! Volta, volta!
E segue:
― Vieram me visitar hoje? O dia de finados não foi ontem?
― Corre Zé Roela! Viemos parar no cemitério!
¬― Oh podridão! Saiam daqui vermes miseráveis, nem trouxeram flores para aliviar este mal cheiro!
― Corre galera, melhor preso do que morto!
E os detentos voltaram a cavar em outro sentido, fugindo da vida, fugindo da morte, em busca da liberdade.
As imagens deste encontro remete a cenas corriqueiras: vivemos a beira do buraco, lutando para não cair ou tentando fugir de dentro dele. E a prisão não regenera porque presos ou livres, vivos ou mortos, sempre haverão homens nos buracos da vida. Sendo assim, melhor preso, pelo menos se está dentro do buraco e se tem esperança.